(( descontorno )) de como gestar palavras ou de amar

quando penso em escrever, quero que as palavras sejam o mais honestas possível comigo.
não quero dizer o que não disse
e muito menos não dizer o que já disse tantas vezes em forma de eco,
repetição,
das voltas que dou pela casa, de camiseta, ventilador ligado, cantarolando frases de alguma música que acabei de conhecer
escuto, gesto - de gestual ou de procriar
estudo os sinais
é pra ser forte, eu disse
mas não me disseram que nois endurece por dentro enquanto endurece por fora
"a ordem dos lados altera o produto"

já tive medo de odiar, já tive medo de mim mesma, talvez ainda tenha

quando escrevo, quero que as palavras sejam o mais escancaradas possível - comigo.
me deixo em transe,
e quando leio meu auto retrato na forma de verbos, advérbios e adventos,
aquele adjetivo feio do medo me cai bem, cheia de predicados.
as palavras
-as mesmas que me cortam do ventre à garganta feito faca no bucho de tambaqui-
me caem bonitas, cheias de coloridos prosaicos - de vulgar ou de narrativo
calor de final de tarde, lágrima doce de reencontro
nem fáceis nem difíceis - enamoradas

já tive medo de amar, já tive medo de mim mesma, talvez ainda tenha

as cigarras cantam às 20h da noite
e o que você fez?
mudo de assunto,
ainda não sei escrever desse lado de cá
preciso ser antes pra depois virar palavra de verdade
não é fronteira, é calendário

do que são feitos os sons das orações?
contatos de universos, quilombos e ecossistemas - as refeições

é de caminhada que divide o peso das bagagens na garupa da bicicleta,
tambor com café
pão de abobrinha e cartas de tarô
xarope de mel com guaco
beijo afobado na república
cerveja no e de bom retiro
brilho nos olhos da sambista mais nova
trocas de carinhos verdes
atemporais e sem fronteiras
caixinhas de elefantes
surtos, cigarros
passinhos num paredão
poções mágicas sob(re) a chuva

enquanto escrevo, gostaria que as palavras fossem o mais gentis possível - conosco
os curso de rio, a cor da floresta e a direção dos vento me conta
que pra viver por inteiro tem que saber alimentar - de se nutrir ou de amamentar
agricultura familiar

as cigarras não cantam às 21h30 da noite
dão de comer
e dão gracias

...si si si si si si si si...



Foto: Carina Castro

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